Discurso de Miriam Stella Blonski - 23/02/2018

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Cumprimentar os componentes da mesa.
Uma boa noite a todos.
Hoje estou assumindo um dos compromissos mais desafiadores da minha vida, e o faço sob influência da memória do saudoso e muito querido Professor Saul Martins, que me iniciou nos meandros do Folclore, e do Professor José Moreira, professor e amigo, que sempre orienta-me nas questões ligadas a um campo de estudo e de atuação tão difícil, qual seja o Folclore e seus desdobramentos em Minas Gerais, no Brasil e no mundo. Que o sentimento forte e a admiração sempre crescentes sejam os alicerces necessários. Espero contar com o apoio e a colaboração de todos os presentes e de quantos mais puderem contribuir para o êxito dessa missão.
Tomo a liberdade de evocar, neste momento, a figura do Jeca Tatu, objeto de uma pesquisa realizada em trabalho de mestrado na UFMG. Na ocasião , além de outros autores, tivemos o escritor Monteiro Lobato e sua pesquisa intitulada “Saci Pererê, resultado de um inquérito”, como base para os estudos, onde a atenção era voltada, na realidade, para o povo, expondo a personalidade dos muitos Jecas existentes no País, seus costumes e afazeres, sua situação econômica e social, suas mágoas e alegrias, suas crenças e mitos.
Folclore é o saber do povo.
Povo é o conjunto dos habitantes de um País, sofrendo as influências da tecnologia, dos meios de comunicação, cada vez mais avançados e sofisticados. Essa influência, contudo, não deve servir de elemento anulador da cultura existente e praticada por esse povo. Não que ela deva permanecer inalterada, uma vez que uma das características mais marcantes da cultura é seu dinamismo, sua capacidade de adaptação aos novos tempos e às novas situações.
Através dos relatos orais pode-se perceber a cultura de um povo, identificar seus elementos constituintes. Ouvir, registrar, analisar tais elementos é tarefa importante. Não basta, entretanto, resgatar a cultura popular, evitando que se percam os mitos, as festas, o artesanato, a culinária, os costumes, as crendices.
É preciso, além de reconhecê-los como símbolos da identidade de diferentes grupos , estudar e registrar seus elementos formadores, possibilitando o intercâmbio de culturas através da sua divulgação entre cidades e países. O mundo vai adquirindo sentido ao ser simbolizado, estruturado e transformado pelo homem. Cada novo valor, cada sentido novo, implica em formas culturais, pois a cultura é uma estrutura simbólica. Cada ideia, por mais simples que seja, modifica a cultura e influencia no modo de vida das pessoas.
O Professor Saul Martins, em seu livro “Folclore em Minas Gerais”, traduziu mineiridade refletindo sobre o comportamento do mineiro e também sobre sua obra, refletindo-se, ainda, na política, na linguagem, no vestuário, na culinária típica, nos processos de trabalho, no folclore, no romantismo das modinhas, na arte, no lazer e no culto.
Todo um mundo de informações e de modos de ser aí reside . Todo um desafio. Toda uma diretriz de trabalho, que constituirá nosso rumo, junto à Comissão Mineira de Folclore, guiada pelo eterno maravilhamento adquirido dos grandes mestres citados.
Ao saber que havia aceito o honroso cargo no qual hoje sou empossada, minha neta Maria Emília, proferiu a seguinte frase, que também é o pensamento de toda a família: “Lá vai minha avó, novamente, procurar a outra perna do Saci!”
Caminhemos juntos, e ao agradecer a confiança que em nós é depositada, curvo-me, respeitosamente, e saúdo a todos os que criaram e mantém viva, através do tempo, esta instituição.
Muito obrigada.